Os meus 50 anos de vida.
Há poucos dias vou completar 50 anos,
aliás, eu e um conjunto de pessoas que completaram comigo esse meio século de
existência, porque ninguém completa 50 anos sozinho. Será que eu estaria vivo
se não fosse a parteira que cortou meu cordão umbilical, a enfermeira que me
aplicou vacinas? Minha mãezinha querida que me deu infinitas mamadas?
A ideia de tempo precisa ser relativizada, mas, deixando o relativismo de lado,
lá se foram 50 primaveras. Ao mesmo tempo em que parece que foi ontem, não foi,
afinal, no espaço de 50 anos muitas coisas extraordinárias aconteceram, pois,
foi nos últimos 50 anos que o homem foi à lua, criou a fórmula da pílula
anticoncepcional- uma revolução no mundo feminino- a queda do Muro de Berlim,
prisão e liberdade de Nelson Mandela, a Revolução Cubana, a eleição e reeleição
do primeiro operário a presidência da república brasileira, a morte de Luther
King, o atentado às Torres Gêmeas, ... e tantos outros acontecimentos
extraordinário do homem neste últimos 50 anos, e até deu tempo de casar-me duas
vezes.
Como estes anos se passaram rápido! Nessa passagem, ficaram as marcas, marcas
de uma vida, de quem viveu 50 anos. Algumas dessas marcas ficaram registradas
nas fotografias e na mente. Nas fotografias hoje amareladas pelo tempo ou
penduradas numa parede, ficaram lembranças de seres queridos que um dia, em
momentos de alegria, dividiram comigo um click fotográfico, alguns deles já
partiram para sempre, outros, até hoje, dão-me o prazer de suas companhias.
Quando me olho num espelho, percebo que meus cabelos quase se foram todos,
restam poucos fios. As rugas, marcas do tempo, vieram sem serem chamadas e
insistem em não me largarem e se multiplicam a cada ano que passa.
Na mente estão guardadas belos momentos inesquecíveis desses meus 50 anos,
momento estes que partilhei(e que ainda vou partilhar, acho) com pessoas
maravilhosamente incríveis. Não são famosas, nem ricas mas nem por isso deixam
de serem espetaculares, têm a essência daquilo que há de mais sublime no ser
humano e é por isso que os prezo tanto.
Esses meus 50 anos me fazem lembrar de minha Infância pobre, do meu carrinho de
pau, dos tombos que levei, das peraltices de moleque. Lembro da casa de barro, do
quintal sem muros, do pé de goiaba, e o
pé de araçá, do pé do romã , do jogo de petecas e do futebol, minha paixão
maior. Lembro do meu grupo escolar, da professora primária e dos amigos de
infância, minha doce infância. Lembro de tudo aquilo que a mente de um
cinqüentão acumulou ao longo desses anos. Sei que já não mais sou tão moço
assim embora as estatísticas apontem que no Japão, Alemanha, EUA, e até do
Brasil, estamos vivendo mais. Não me iludo, daqui pra frente, descerei ladeira
a baixo, é o ritmo cruel da vida, ou seja, nascer, crescer desenvolver-se,
depois vem o fim de um ciclo.
Nesses meus 50 anos, acho que quase todo mundo é mais moço que eu, não que os
invejo, pois vivi avidamente todos os dias de minha vida, mas percebo que os
anos se passaram numa velocidade estrondosa.
Quando ainda moleque, joguei bola, brinquei de bolinha de gude, finca dor, ré,
calmone joguei, petecas, comi puxa
puxa na barraca da dona Dalziza, tomei banho riachinho, na praia
do mar grosso e no riacho no final do aeroporto próximo minha casa, andei pelo
o morro, fiz faquinha colocando prego nos trilhos e vi o trem passar, vi o
porto carvoeiro, navio entrarem e saírem da boca da barra. Joguei futebol e
nadei com Geraldo Chimba. Corri, fui à escola, sujei o uniforme escolar,
briguei, bati e apanhei, como todo moleque. Vi o campeonato e jogos
emocionantes no Campinho campeonato do seu Pedro Mauricio. Times como Tep, Tingidor,
Galícia, Tupi, Portuguesa, America, Fluminense, Caxias Bandeirantes, Codipesca,
Avenida, Galocha entre outros. O excrete de 70, Com Felix, Marco Antonio,
Brito, Piazza, Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson Pelé, Rivelino Tostão,
Jairzinho. Se tudo isso não tivesse acontecido, não tinha vivido plenamente e
eu vivi.
O tempo passa a, as coisas mudam. As peraltices de menino dão lugar aos sonhos,
nem sempre concretizados. Primeiro queria ser jogador de futebol, depois
advogado, passar no concurso do Banco do Brasil. Nada disso se concretizou,
terminei sendo Pedagogo e Jornalista. Sonhos defeitos, construir e concretizei
outros e a vida continuou.
Nesses meus cinquenta anos, vivi plenamente a cada dia, levei a vida sempre
numa boa, e parafraseando Chico Buarque e Renato Russo, diria que vivi cada dia
como se fosse o último, amei as pessoas como se não houvesse amanhã.
Muito aprendi, acho até que ensinei um pouco. Aprendi que a felicidade não está
sempre a um, um passo a mais, é uma busca incessante e que ela não está
relacionada com riqueza ou poder ou fama, se assim fosse, só os ricos, os
poderosos e famosos eram felizes, esses me parecem, são os menos felizes e que
dariam tudo que têm para serem felizes.
Aprendi que o melhor da vida, não é a vida, é vivê-la em plenitude, viver ao
lado de pessoas que têm significados em nossas vidas e que nós também somos
significantes para elas.
Nessa caminhada, que já dura 50 anos, muitas pessoas fizeram parte de minha
vida, muitas delas passaram e não deixaram saudades, na verdade, até hoje não
sei o porquê, são páginas viradas. Outras não, sem que soubessem, deixaram suas
marcas que me acompanharão por toda minha vida, e se eu completar outros 50
anos, suas lembranças farão bem a minha’lma.
Já completei 50 anos. Não queria ser um jovem, pois muitos deles não sabem o
valor que tem a vida, não amam nem são amados e talvez não vivessem o que vivi.
Não queria ser um senhor de 70 anos, muitos deles perderam o trem da vida,
viveram melancolicamente suas vidas, muitos vivem na solidão amargurados e
tristes. Eu quero mesmo é ser eu, com meus 50 anos bem vividos! Que venha os
outros 50, 40, 30, 20,10.... afinal, viver ao lado de pessoas maravilhosas,
como você, que ler este escrito é o que dar sentido a minha vida.
Ricardo Cardoso
Jornalista.
28.09.2012